Você se considera gamer? Essa palavra que, apesar de antiga, ganhou força entre os anos 70 e 80 com a popularização dos computadores e video games, e está definida no dicionário como “pessoa que joga video games ou participa de jogos de RPG”, mas que carrega uma conotação pejorativa até hoje, virou assunto novamente graças à uma afirmação bastante relevante da vice-presidente de marcas da Electronic Arts, Elle McCarthy que disse que o rótulo gamer está ultrapassado e é hora de aposentá-lo.
Para não descontextualizar a afirmação – e, principalmente, não inflar os ânimos –, ao dizer que o termo “gamer” está ultrapassado, McCarthy se refere à noção rasa e generalizada que as marcas, que desejam entrar no mundo dos jogos eletrônicos e falar com o público “gamer”, têm de seu grupo-alvo e persona. Com cada vez menos jogadores se identificando como gamers, as marcas devem mudar sua abordagem e focar mais na mídia como “interativa”, que permite o interator inter-relacionar-se com quase tudo através do jogo, seja uma atividade como cozinhar, experienciar um momento histórico ou até explorar sua identidade sexual.
Do ponto-de-vista do marketing, eu concordo com a McCarthy e assino embaixo, ainda mais considerando que o mercado de games mobile é maior que o de PCs e consoles somados, e que sua tia passa tanto tempo destruindo jujubas no celular quanto você passa eliminando oponentes em partidas on-line no console. Porém, o assunto aqui no post não é marketing, mas sim se ainda cabe nos chamarmos de gamers ou se o termo deve mesmo cair em desuso.
A culpa é dos video games
Muito longe das famílias felizes dos comerciais da Atari, houve uma época que os video games passaram a ser ferozmente criticados, com alegações que eles influenciavam negativamente os jovens, introduzindo pensamentos destrutivos, violentos e até suicidas. Jogos como Mortal Kombat (Acclaim Entertainment, 1992), Doom (id Software, 1993), Carmageddon (Stainless Games, 1997) e Grand Theft Auto (DMA Design, 1997) eram os alvos principais da mídia sensacionalista. Inúmeros estudos foram feitos para provar ou contradizer tais alegações – não cabe a mim julgar a integridade dessas pesquisas – mas ninguém chegou a qualquer conclusão.
No entanto, já estava incutido no imaginário popular o estereótipo do gamer que perdura até os dias de hoje: do moleque nerd cheio de espinhas, poucos amigos, enfornado no quarto gritando pra tela do PC; ou o jovem adulto imaturo, cabelo preso em rabo de cavalo, um livro do Senhor dos Anéis na mochila cheia de chaveiros; ou até o adolescente roqueiro que chega na escola atirando contra os colegas – o Massacre de Columbine, protagonizado por dois estudantes americanos que deixaram 13 mortos e 21 feridos em uma escola no Colorado, foi prato cheio para quem tentava difamar os video games, e é referenciado até hoje quando abordamos o tema da violência nos games.
Meu Deus, o Massacre de Columbine aconteceu há 22 anos, é sério que a gente ainda discute isso? Hoje dialoga-se, muito mais profundamente, sobre temas como bullying, posse de armas, marginalização, transtornos mentais e o uso de antidepressivos, entre tantos possíveis motivos que levaram os dois adolescentes a cometerem o crime, e nada tem a ver com o gosto por Doom ou qualquer jogo de videogame.
Comunidades tóxicas
Um dos maiores problemas discutidos sobre o mau uso da internet está relacionado a uma parcela de usuários que, escondidos por trás de uma tela e protegidos no anonimato, se dão o direito de difundir mensagens de ódio e atacar outros usuários, especialmente mulheres, estrangeiros e minorias. Muitos gamers – mas não limitado a eles, vide várias lideranças políticas do nosso País – são bastante ativos quanto a ataques machistas, assédio moral e sexual, ofensas associadas ao racismo e aporofobia, à homofobia e ameaças de morte, xenofobia e diversas formas de bullying.

Infelizmente, esse tipo de pessoa tóxica está presente nas partidas on-line, fóruns e comunidades de games desde que essas existem e, por causarem tanto problema e se fazerem tão visíveis, alguns passaram a associar o termo gamer a estes grupos, embora, novamente, o gosto por video games não tenha nenhuma relação com comportamentos tóxicos de manada e a má índole das pessoas.
É hora de desconstruir
Eu acho legal que exista uma palavra representativa como “gamer”. Toda pessoa sente a necessidade de pertencer a um grupo, comunidade ou tribo. Da mesma forma que chamamos cinéfilo quem é fissurado por tudo aquilo que se relaciona com a sétima arte; audiófilo o cara que busca a mais alta qualidade de reprodução de música; ou até mesmo boleiro o cara que não perde uma pelada com os amigos; por que não deveríamos chamar aquela parcela de jogadores que é apaixonada pela mídia e acompanha a história dos jogos eletrônicos de gamers?
Na minha opinião, cabe aos veículos de comunicação de massa e aos times de marketing desconstruir o estereótipo da forma como eles próprios construíram há trinta e poucos anos. Há que discutir-se, também, com muito mais profundidade, a toxicidade entre os jogadores e nas partidas on-line, nos fóruns e na internet de modo geral. São atitudes que ajudam a perpetuar tal estereótipo, mas os jogos eletrônicos não podem ser veículo de propagação de ódio. É necessário educar. Extinguir o termo gamer não extingue nenhum comportamento tóxico, e os jogadores da nova geração e das futuras têm o direito de curtir o passatempo sem ser estigmatizados por um rótulo infame que, de forma alguma, representa a maioria.
Quero saber sua opinião: precisamos ressignificar o termo gamer e torná-lo inclusivo, representando de maneira saudável pessoas que gostam de jogar video game? Ou é mais fácil abolir o termo, por causa de um bando de babacas? Deixe seu comentário.
Ola, tudo bem?
Sabe, em questão a esse assunto sinto informar que para incluir algo do tipo deveríamos todos nos juntar e trazer devastas opções de argumentações para debater sobre o assunto, é complicado demais ter que mudar três tipos de gerações sendo elas as X, Y e Z.
Através disso eu falaria só uma coisa, se o game trás toda essa violência no mundo e intoxica a cabeça das crianças, me diga o campeonato de Mortal Kombat e do Counter Strike, todos que participam lá se tornaram peritos e profissionais em matar na bala e arrancar cabeças, eles fazem isso na vida real? Logicamente que não, eae?
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Eu, que acho legal o termo gamer, concordo que o que precisamos, como comunidade fã de games, é ter todas as argumentações necessárias para debater o assunto e desestigmatizar o termo. É complicado mudar três gerações, mas podemos desconstruir a atual geração, a fim de que passe para as próximas uma mensagem muito mais saudável da que lhe foi passada nas últimas duas décadas ou mais.
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